Dá para aprender inglês depois de velho?
Este blog é lido por pessoas de todas as idades. Eu recebo e-mails de adolescentes a idosos perguntando de quase tudo relacionado à língua inglesa. Uma das perguntas que sempre recebi foi a que dá título à dica de hoje: Dá para aprender inglês depois de velho? Tem muita gente de 30, 40, 50, 60 anos querendo saber se eles ainda têm chances de aprender inglês. Então vamos falar sobre isso!
Antes devo alertá-los que esse assunto gera muita discussão entre os estudiosos de aquisição linguística. Portanto, o que vou escrever está relacionado às minhas pesquisas na área. Infelizmente, não vai dar para escrever tudo. Então, vez ou outra terei de falar sobre alguns assuntos relacionados em outros posts.
Para começar, a minha resposta para a pergunta título deste texto é a seguinte: sim, é possível aprender inglês depois de velho. No entanto, são necessárias mudanças no jeito de ensinar (abordagens, métodos, técnicas, estratégias, etc.) bem como no comportamento do aprendiz. (Você é um bom estudante de inglês?)
O começo de toda a mudança está na resposta a esta pergunta: o que significa aprender inglês? Em geral, todos concordam que aprender inglês significa ser capaz de se comunicar sem muitas dificuldades em situações cotidianas diversas. Essa ideia é então dividida em três outras:
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- aprender as minúcias da gramática é essencial;
- aprender a produzir corretamente os sons da língua inglesa é essencial;
- aprender o maior número de palavras é essencial.
Ou seja, para a maioria das pessoas, essas três ideias são a base para comunicação eficiente (fluência). Tem gente que nega isso! Mas, a verdade é que lá no íntimo estudantes e professores de inglês acreditam piamente nas três sentenças acima. Saber inglês, portanto, se resume a: ser bom de gramática, ter a pronúncia perfeita e ter um vocabulário invejável. [Leia também: Por Que Brasileiro Não Aprende Inglês?]
E se eu falasse para você que hoje em dia pesquisas mostram que isso tudo é questionável? E se eu te falasse que essas pesquisas provam que adultos podem aprender inglês sem muitas dificuldades? A única ressalva é quanto à pronúncia. Essa realmente não tem como dominar 100% depois de certas idades. Afinal, o aparelho fonológico é formado por músculos e nervos que com o passar dos anos perdem a flexibilidade. [Leia mais em Por que Aprender a Pronúncia do Inglês é Difícil?]
No entanto, saiba que desde o ano 2000 (e mesmo um pouco antes), pesquisas na área de Neurociência conduzidas por cientistas do MIT (Massachussets Institute of Technology) mostram que pessoas boas da cabeça podem aprender uma língua independente da idade. Essas pesquisas revelam que um adulto pode aprender uma segunda língua desde que sejam feitas mudanças no modo de ensino e no comportamento do aprendiz.
O modo tradicional de ensino pega firme nas regras gramaticais, termos técnicos, decoreba de um monte de palavras e por aí a fora. Já falamos sobre isso na dica Mudando o Jeito de Aprender Inglês. Curiosamente, nas pesquisas observou-se que uma pessoa pode aprender uma segunda língua de forma natural deixando os tecnicismos de lado. O ideal é a aquisição da gramática de uso (a gramática natural) embutida nas sequências formulaicas (chunks of language, formulaic language).
De certa forma, o que eles dizem é que essas informações lexicais (com a gramática de uso inclusive) devem ir para o sistema neural correto (memória declarativa) e não para o “errado” (memória procedimental). Afinal, a memória procedimental é a que demora para aprender algo depois dos 12/13 anos. Já a memória declarativa continua ativa e ávida por aprender novidades (desde que a pessoa não tenha problemas neurológicos, claro).
Essas descobertas no campo da Neurociência aliadas às descobertas do campo de Second Language Acquisition/Teaching derrubam uma boa parte da ideia de que é impossível aprender uma língua depois dos 12/13 anos de idade. Os resultados dessas pesquisas mostram ainda que se o método de ensino tradicional (praticado pela grande maioria das escolas de idiomas) for mudado de modo coerente, os objetivos de adultos (independentemente da idade) em relação a aprender uma outra língua podem ser alcançados satisfatoriamente.
Claro que o problema será apenas o perfil de cada aprendiz. Afinal, algumas pessoas possuem dificuldades naturais para aprender qualquer coisa. Logo, cada caso deve ser tratado diferentemente e cabe aos professores identificarem isso. O problema aí, no entanto, não é a impossibilidade de se aprender o novo idioma, mas sim as resistências/traumas que o aprendiz traz consigo e que é levado a crer nas escolas pelas quais passa.
Resumindo tudo isso: é perfeitamente possível aprender inglês depois de velho. Mas, é preciso fazer mudanças no método tradicional para que o cérebro dos adultos possam adquirir a língua mais naturalmente. Isso envolve quebra de paradigmas, mudanças nos livros de ensino, melhor preparo dos professores para atender ao público adulto e uma série de outras mudanças. A pergunta agora é: será que o pessoal está disposto a realizar essas mudanças?
Esse assunto é longo e muita coisa precisa ser mencionada. Eu tentei fazer um resumo das ideias principais. Garanto a você que em outras ocasiões, voltarei a tocar nesse assunto. Afinal, trata-se de algo que pesquiso, dou palestras e escrevo a respeito. Então, aguarde! 🙂
Muito bom Denilso!
Eu acho que nunca é tarde para aprender uma nova língua. Pode demorar um pouco mais do que quando se é mais jovem mas é tudo uma questão de motivação. Acho que quando se está verdadeiramente motivado pode se aprender uma nova língua em qualquer idade.
Essa é a mais pura verdade! Motivação é algo que ajuda qualquer pessoa, em qualquer idade a aprender qualquer coisa. Basta querer e ir atrás. Claro que o método certo, a maneira adequada de se ensinar também ajuda. Já nesse último ponto é onde muita coisa/gente deixa a desejar. Enfim, tem de ser algo que todos participam e colaboram. 🙂
Eu tenho 44 anos e estou há 5 meses em Boston estudando full time numa escola de inglês. Confesso que o meu maior challenge é a pronuncia correta das palavras. Espero contrariar essa regra de que com a idade fica difícil pronunciar corretamente palavras de uma segunda lingua, aprendida depois de mais velho. Antes de eu chegar aqui nao sabia formar uma frase para pedir um sanduiche, hoje converso com americanos e me faço entender, mesmo dando as minhas "pedradas", afinal ninguem aprende idioma em alguns meses.
Adorei o site.
Parabéns,
Carolina
Que é isso, Carolina! Você não é tão velha assim! Vou também torcer para você contrariar essa regra da dificuldade de pronúncia. Eu acredito que com esforço e dedicação nós somos capazes de contrariar essas coisas e esfregar na cara dos teóricos. Mantenha-me informado! Será também um prazer contribuir com seu aprendizado. 🙂 Sucesso!
I have 60 years I returned to study English for 5 months ago. I have some difficulty in pronounced, but I have a good vocabulary, I do this because I love the language and also because I need to exercise my neurons, as do treatment against microangipatia. I also do crossword puzzles and craft, and I read a lot. Sorry my mystakes.
I like very your site so much..
Agradeço a motivação pessoal, que é primordial para as pessoas , em especial as mais velhas, iniciarem a aprendizagem de uma nova língua.
Tenho 50 anos e estou iniciando um curso de Mestrado na área de Letras (UFSC), então é pré-requisito dominar pelo menos uma língua estrangeira. Com os comentários acima fiquei mais animada para tal aprendizagem.
Adoro esse site.
Abraços prof. Denilson,
Tânia
Com certeza nunca é tarde para se aprender qualquer coisa desde que a gente sinta prazer no que se propõe a fazer! A auto-confiança é tudo !!!
Tenho 48 anos e estudei inglês por 3 anos, apesar de ter estudado em uma escola de linguas com didática para adolecentes, aprendi algo. Depois vim a trabalhar em uma empresa multi nacional, onde passei a conviver com a lingua inglesa diariamente. COnsigo me comunicar, mas as vezes tenho dificuldade de entender o que se fala, as vezes Não consigo ouvir direito(pela minha idade a minha audição não está das melhores) e as vezes da propria pronuncia dos meus interlocutores(pois, esta é uma empresa da Bélgica onde, o Inglês é a terceira lingua), me trai. Meu vocabulário é bom, mas na hora da pressão eu esqueço algumas palavras. Eu tenho que sempre estar ouvindo algum video, lendo revistas, para manter o Inglês na minha mente. Acho não ser dificil, mas fácil também não é, para uma pessoa mais velha aprender Inglês. É necessário interesse e disciplina, bem maior do que uma pessoa mais jovem!!!
Discordo, Elaine! Há inúmeras pesquisas linguisticas nos dias de hoje que derrubam essa teoria ultrapassada! O problema está no modo como as pessoas no Brasil ensinam/aprendem a língua.
Jamais, até porque, morar fora não é e nunca será uma garantia de que a pessoa irá dominar uma língua estrangeira. Existem vários casos de pessoas que moram há anos fora do Brasil e até hoje não dominam a segunda língua. O aprendizado é resultado do esforço e da disciplina de quem quer aprender e/ou se aperfeiçoar.
Assisti uma vez uma aula do CCAA, para ver como era, e achei muito ruim (Fisk também). Além de uma metodologia que considerei ultrapassada, o professor tinha uma pronúncia do inglês péssima. Sem contar o fato de que esses cursos, mesmo depois de avaliar seu nível de conhecimento, te colocam em uma turma muito heterogênea, cheia de adolescentes que, em vários casos, estão ali apenas porque o pai ou a mãe estão pagando o curso, não levam a sério.
Olá Denílso Lima. Quero muito aprender inglês, tenho 35 anos falar e entender esta língua é o meu grande sonho.
Retirei este trecho da matéria acima “Isso envolve quebra de paradigmas, mudanças nos livros de ensino, melhor preparo dos professores para atender ao público adulto e uma série de outras mudanças” e te pergunto.
Onde conseguir um lugar que contemple todos esses tópicos?
O que achamos no mercado são escolas que visam a maneira arcaica de ensinar outra língua. Você tem indicação de alguma escola que seja assim?
Obrigada!!!
Olá, Luciana! Obrigado por seu contato! No momento, não conheço nenhuma escola que atenda esses pontos. Mas, garanto a você que em breve terei uma para indicar! 🙂
O que as pessoas esquecem, para além de todos os estudos relacionados à capacidade cognitiva, reside em uma questão muito mais simples e prosaica: a disponibilidade/motivação.
Depois de velho temos muitas outras preocupações, questões relacionadas a filhos, emprego, pressão para o cumprimento de metas, trânsito caótico todos os dias, tudo isso que contribui para uma qualidade de vida intelectual de baixa qualidade.
Com efeito, depois de velho, a questão não se resume a uma menor capacidade intelectual (embora, como cediço, como tudo na vida, o cérebro também envelheça).
Por outro lado, tem-se mais maturidade, conhece-se melhor, de forma que se pode adaptar-se a novas formas de estudo (sozinho), elegendo-se o que se acha mais atrativo e, igualmente, mais envolvente.
Obviamente as questões básicas relacionadas ao aprendizado de qualquer língua se faz essencial.
Contudo, não se resume a isso, diletos.
Se depois de amadurecido, todos gozassem da mesma ausência de preocupações de uma pessoa de 12/11 anos, da disponibilidade de tempo, de boas noites de sono, e, alinhasse a isso tudo o amadurecimento que nos proporciona a vida acadêmica, a vida profissional e o aprofundamento no estudo sozinho, acredito que aprender uma nova língua depois dos 25 anos seria ainda mais fácil.
Entretanto, cabe a ressalva. Aprender outra língua unicamente por imposição do meio acadêmico ou do meio profissional ou por pressão da sociedade terá efeito nulo.
O cérebro trabalha com recompensas, com motivação. Se aprender um pouquinho de cada língua lhe dá prazer; se chegar ali em Buenos Aires e falar um portunhol e ser entendido sem se resumir a falar português despacio lhe satisfaz; se chegar em Paris e saber pedir um café em francês sem apelar para o Inglês é algo que você acha fantástico; se chegar na alfândega americana e conseguir conversar tranquilamente é algo que lhe traz orgulho de si mesmo, com certeza você terá mais instrumentos de compensação para aprender outra língua.
Por outro lado, se aprender outra língua é um estorvo, isso contribuirá para que você não assimile o conhecimento. E não, não se sinta pior por isso. Em uma sociedade que busca se democratizar cada vez mais, que busca o aceite do plural, a identidade com nossos desejos e a realização pessoal passa diretamente por fazermos aquilo que nos apetece e não simplesmente em fazermos concessões todos os dias de nossas vidas.
Agora, lá no fundinho, eu acho que sempre vai existir uma outra língua que vai nos apetecer em aprendê-la. Que não seja o inglês, que seja outra.
Happy holidays! Cheers!
O que as pessoas esquecem, para além de todos os estudos relacionados à capacidade cognitiva, reside em uma questão muito mais simples e prosaica: a disponibilidade/motivação.
Depois de velho temos muitas outras preocupações, questões relacionadas a filhos, emprego, pressão para o cumprimento de metas, trânsito caótico todos os dias, tudo isso que contribui para uma qualidade de vida intelectual de baixa qualidade.
Com efeito, depois de velho, a questão não se resume a uma menor capacidade intelectual (embora, como cediço, como tudo na vida, o cérebro também envelheça).
Por outro lado, tem-se mais maturidade, conhece-se melhor, de forma que se pode adaptar-se a novas formas de estudo (sozinho), elegendo-se o que se acha mais atrativo e, igualmente, mais envolvente.
Obviamente as questões básicas relacionadas ao aprendizado de qualquer língua se faz essencial.
Contudo, não se resume a isso, diletos.
Se depois de amadurecido, todos gozassem da mesma ausência de preocupações de uma pessoa de 12/11 anos, da disponibilidade de tempo, de boas noites de sono, e, alinhasse a isso tudo o amadurecimento que nos proporciona a vida acadêmica, a vida profissional e o aprofundamento no estudo sozinho, acredito que aprender uma nova língua depois dos 25 anos seria ainda mais fácil.
Entretanto, cabe a ressalva. Aprender outra língua unicamente por imposição do meio acadêmico ou do meio profissional ou por pressão da sociedade terá efeito nulo.
O cérebro trabalha com recompensas, com motivação. Se aprender um pouquinho de cada língua lhe dá prazer; se chegar ali em Buenos Aires e falar um portunhol e ser entendido sem se resumir a falar português despacio lhe satisfaz; se chegar em Paris e saber pedir um café em francês sem apelar para o Inglês é algo que você acha fantástico; se chegar na alfândega americana e conseguir conversar tranquilamente é algo que lhe traz orgulho de si mesmo, com certeza você terá mais instrumentos de compensação para aprender outra língua.
Por outro lado, se aprender outra língua é um estorvo, isso contribuirá para que você não assimile o conhecimento. E não, não se sinta pior por isso. Em uma sociedade que busca se democratizar cada vez mais, que busca o aceite do plural, a identidade com nossos desejos e a realização pessoal passa diretamente por fazermos aquilo que nos apetece e não simplesmente em fazermos concessões todos os dias de nossas vidas.
Agora, lá no fundinho, eu acho que sempre vai existir uma outra língua que vai nos apetecer em aprendê-la. Que não seja o inglês, que seja outra.
Happy holidays! Cheers!
That’s it! 🙂