Aprender a Gramática do Inglês

Recebo emails de pessoas dizendo que minhas palavras contra aprender a gramática do inglês é algo absurdo. O argumento deles é que aprender gramática é necessário para se comunicar, para se fazer entender melhor, para não cometer erros, etc.

Eu concordo que gramática é importante! Tanto é que eu nunca incentivei ninguém a não estudar gramática. Pelo contrário! Eu incentivo o estudo da gramática. Ou melhor, incentivo a aquisição da gramática de modo natural. Assim, aproveitando o assunto, vou falar sobre aprender a gramática do inglês; mas, de um modo diferente, Então, vamos por partes!

Aprender a Gramática do Inglês: o tradicional

O modo tradicional é aquele no qual você se debruça sobre livros de gramática procurando informações sobre um assunto: will e going to, por exemplo.

Com os livros (ou sites),você lê que will é usado quando não se tem certeza de que aquela ação/fato acontecerá. Já going to é usado para dar certeza de que a ação/fato acontecerá.

» I will travel next year. (incerteza) » I’m going to travel next year. (certeza)

Aprender a Gramática do InglêsAlém disso, algumas pessoas passam minutos – ou até horas – decorando como é o will em frases afirmativas, negativas e interrogativas. Outros se enrolam com o fato de going to ter o verbo to be e aí vão atrás de reaprender esse verbinho.

Nem preciso dizer que esse modo tradicional é mecânico. Nele você aprende as peças e vai montando as coisas aos poucos.

As atividades realizadas nesse modo tradicional testam a capacidade de memorizar regras. Atividades com enunciados como “complete com a forma correta do verbo”, “reescreva as sentenças nas formas interrogativa e negativa”, “escreva o verbo irregular de modo correto”, etc., são mais testes de memória do que testes que avaliam a capacidade de usar a língua naturalmente.

É por isso que muita gente sofre ao fazer exames como TOEFL, TOEIC, IELTS, Cambridge e os demais. Esses exames avaliam se o candidato é capaz de usar a língua e não saber de cor e salteado as regrinhas que aprendeu em uma escolinha ou outra.

O resultado mais comum desse modo tradicional de aprender a gramática do inglês é o seguinte: as pessoas sabem sobre um monte de coisas em inglês, mas não sabem como usar esse monte de coisas.

É “contra” (note as aspas!) esse método tradicional que muitos estudiosos escrevem. Diane Larsen-Freeman, Michael Hoey, Michael Lewis, Scott Thornbury, David Nunan, Jane Willis, David Willis são exemplos de autores que já escreveram e ainda escrevem sobre como o método tradicional mais atrapalha do que ajuda. Citei apenas os estrangeiros, pois no Brasil o pesquisador brasileiro ainda não é tido como autoridade nesses assuntos. Um preconceito bobo e infantil!

Mas será que há outro jeito para aprender a gramática do inglês? Vejamos!

Aprender a Gramática do Inglês: outro jeito

Para falar sobre esse outro jeito é preciso desconstruir aquilo que está encravado na cabeça da maioria sobre o que é aprender gramática. Ou seja, é preciso deixar de lado a ideia de que aprender (decorar, memorizar mecanicamente) regras e termos técnicos é aprender gramática.

Na verdade, os estudiosos dizem que aprender gramática vai além da decorreba mecânica de regras. Melhor ainda: aprender gramática pode ser algo divertido. Em suma, aprender gramática pode ser sim muito diferente.

Para que essa diferença seja possível é preciso ver a gramática como um processo e não como um coisa. Diane Larsen-Freeman chama esse modo diferente – esse processo – de grammaring. Não podemos ver a gramática apenas como coisa estática e imutável. Temos de vê-la como um rio, por exemplo.

O estudante de inglês deve entrar nesse rio e aprender a navegá-lo conforme for descendo a correnteza. Ele se envolve no processo. Ele aprenderá praticando e vivenciando a língua a cada momento. Adquirindo as estruturas gramaticais da língua conforme for encontrando-as.

Por exemplo, aprende-se que will e going to são duas maneiras diferentes para expressar ideias no futuro. Aprende-se ainda que poderá usar cada uma delas como bem entender. Pois, na vida real é comum encontrarmos falantes nativos dizendo coisas assim:

» I think I’m going to talk to her tomorrow morning. » I’m totally sure he’ll come to the party.

Note que na primeira a pessoa tem dúvidas se vai falar com alguém amanhã de manhã (I think I’m going to…). Já na segunda a pessoa tem certeza absoluta que alguém virá para a festa (I’m totally sure he’ll…). E aí!? O que houve com as regras do modo tradicional? Isso está errado?

Não! Não está errado! Isso é a gramática de uso da língua inglesa, é a gramática do inglês sendo colocada em prática. Não é uma questão de certo ou errado! É apenas uma questão de usar a língua naturalmente. E isso acontece mesmo nos níveis mais doutos da língua!

Outro exemplo para facilitar isso está nos usos do Present Perfect. Pelo modo tradicional, aprendemos que o Present Perfect possui inúmeros usos. O estudante então passa horas e mais horas tentando decorar cada um daqueles usos e espera sair usando tudo da noite para o dia. A frustração é grande! Pois, o estudante sabe “tudo” sobre o Present Perfect, mas não sabe o principal: usar o Present Perfect naturalmente.

Pois bem! Quando aprendemos a ver a gramática como um processo, adquirirmos as coisas aos poucos. Tudo com calma de modo mais natural. Sem contar que é possível aprender muito mais do que se imagina.

Digamos que você queira dizer em inglês “eu sempre quis fazer algo”. Com um pouco de curiosidade, você aprende que o modo mais natural é “I’ve always wanted to…”.

Veja que usamos o Present Perfect. Muitos ao verem isso se desesperam. Querem saber o porquê de usar o Present Perfect. Estão presos ao modo tradicional e acabam perdendo o foco. Estão vendo a gramática como uma coisa, um objeto. Se vissem a gramática como um processo, aprenderiam o jeito de dizer o que querem dizer, criariam mais exemplos para facilitar a assimilação e seguiriam em frente:

» I’ve always wanted to meet you. (eu sempre quis te conhecer.) » I’ve always wanted to buy an iPhone. (Eu sempre quis comprar um iPhone.) » I’ve always wanted to read that book. (Eu sempre quis ler este livro.)

Usando a criatividade – e o que a pessoa já assimilou naturalmente em outros carnavais – poderá mudar a estrutura gramatical para expressar outras ideias:

» She’s always wanted to meet you. (Ele sempre quis conhecer vocês.) » They’ve always wanted to travel by plane. (Eles sempre quiseram viajar de avião.) » We’ve always wanted to learn German. (A gente sempre quis aprender alemão.)

Ao ver a gramática como um processo, o aprendiz continua aprendendo a gramática. Mas, adquiri-se a gramática por meio de um processo natural e não mecânico.

Aprender a Gramática do Inglês: e os erros?

Algumas pessoas dizem que esse jeito diferente de aprender a gramática do inglês faz com que as pessoas aprendam a falar errado. Dizem que o erro se fixa na cabeça e depois não tem mais conserto. Eu discordo! Pois, quando percebemos que estamos falando algo errado, nós imediatamente damos um jeito de nos corrigirmos e passarmos a usar o certo.

Eu durante muito tempo falava “I always wanted to…”. Até que um dia, ao ler uma entrevista, notei que o correto e natural era (e ainda é) “I’ve always wanted to…”. Ao ler isso, procurei por mais exemplos e aprendi o certo. Esse aprendizado foi natural e a correção não se deu por causa das regras. Até aquele momento eu falava errado; mas, depois, passei a falar o certo.

Os erros, portanto, só se fossilizam (esse é o termo que usamos!) se a pessoa se acomodar. É possível aprender o certo e até mesmo se corrigir naturalmente. Afinal, a língua inglesa é uma língua viva e conforme nos envolvemos com ela ou fazemos uso dela, nós vamos aprendendo coisas novas e vamos nos aperfeiçoando cada vez mais.

Aprender a Gramática do Inglês: conclusão

Em um podcast que gravei ano passado com o pessoal do English Experts (clique aqui), eu falei bastante sobre isso. No podcast afirmo que a gramática como uma coisa (um objeto), aquela gramática das regras não mata ninguém. É bom sabermos sobre ela! Mas, podemos nos dedicar com afinco à ela quando já tivermos um nível de inglês que nos permita analisar a língua de maneira mais técnica.

Essa ideia é a mesma que acontece com o nosso processo de aquisição do português. Quando vamos à escola, nós já falamos português. Na escola apenas aprendemos a ver a língua como um objeto que pode ser desmontado e remontado de novas maneiras. Na escola o nosso sonho de que falamos português é destruído! Mas, na verdade, nós falamos português.

A gramática – seja ela vista com uma coisa (modo tradicional) ou como um processo (o outro jeito) – é essencial para o estudante de inglês. A “novidade”, no entanto, é invertermos a ordem: ao invés de ensinar/aprender a coisa antes (regras e termos técnicos), o convite é para primeiro ensinar/aprender o processo (o uso natural das estruturas gramaticais).

Ninguém é contra o ensino da gramática. O que tentamos fazer é mostrar que há outro método (outros meios) para aprender a gramática do inglês. Se o método tradicional tem deixado você cansado e desmotivado, que tal experimentar esse outro jeito diferente? No nosso curso, Aprender Inglês Lexicalmente, dedicamos momentos para falar ainda mais sobre isso. Clique para saber como se inscrever.

Leia também: Aprender Inglês Sem Gramática

BIBLIOGRAFIA

» From Grammar to Grammaring, de Diane Larsen-Freeman » Uncovering Grammar, de Scott Thornbury » Gramática de Uso da Língua Inglesa, de Denilso de Lima » The Lexical Approach, de Michael Lewis » From Corpus to Classroom, de Michael McCarthy, Anne O’keefe e Ronald Carter » Beyond the Sentence, de Scott Thornbury » A Framework for Task-Based Learning, de Jane Willis » Task-Based Language Teaching, de David Nunan

17 Comentários

  1. Caro professor, infelizmente tudo o que sai do padrão e/ou das regras é visto como anormal. Sigo o seu trabalho e acho sensacional. Seu texto seria desnecessário se algumas pessoas tivessem uma visão mais ampla sobre o conhecimento. Abraço!

    1. Obrigado, Carla!

      Temos ao menos que divulgar as ideias e explicar às pessoas como é o novo. Quem sabe um dia mais e mais pessoas entendam isso e aí haja mais espaço para as novas ideias. 🙂

  2. É por isso que todos os dias dou uma passada aqui. Sempre artigos geniais. O brasileiro quer aprender ou pelo menos tenta aprender a gramatica certinha, completa, pra só depois então começar a falar. E isso demora anos e anos. O que muito acontece é que essa pessoa acaba desistindo do aprendizado ou então quando começa a falar não tem fluencia porque fica pensando na gramatica. Faço minhas aulas de gramatica pra saber as regras, claro, mas treino muito mais o listening e o speeking. Não me importo de falar alguma coisa errada, o importante é passar a mensagem e ser feliz Abraços

    1. Isso mesmo, Fabio! O importante é se comunicar e ir aprendendo com a vida. As pessoas esperam aprender tudo para só então arriscarem. Devem fazer o contrário: arriscar com o que já sabem e indo aprendendo mais com o tempo e com o uso. 🙂

  3. Primeiramente parabéns pela matéria professor, tocou em um “ferida aberta” que havia em mim. Digo isso pelo motivo das dificuldades que venho encontrando nas gramaticas que são apresentadas em uma escola de idioma que frequento (justamente por esse modo “mecânico” de aprendizado deles. Com quase 4 anos de curso, eu (ainda) não consigo manter um dialogo por conta das regras gramaticais, pois tenho de parar a conversa, ter alguns segundos para lembrar de como é a maneira correta de se falar, e após falar o que pensei, ainda mando um “Is it correct?” pra pessoa, pra ter certeza do que eu disse, isso é muito constrangedor, e me trava mais ainda.
    O seu livro mais recente: “Gramática de Uso da Língua Inglesa” seria o mais indicado para quem quer sair desse modo mecânico e buscar a fluência de um modo mais natural? (o que eu mais quero).
    Abraços.

    1. Olá, Luc! Obrigado por seu comentário e fico feliz que o tenho tenha sido útil para o seu aprendizado ou mudança no mesmo! 🙂

      O meu livro – Gramática de Uso da Língua Inglesa – apresenta a gramática do inglês justamente do modo como eu descrevo acima. Nele os tópicos mais comuns e que costumam dar dor de cabeça aos estudantes são apresentados de modo natural e não mecânico. As atividades também são feitas para que o leitor/estudante aprenda a usar a gramática naturalmente e não como se fosse um jogo de memória.

      That’s it! 😉

  4. Eu quem agradeço, Thales! Fico feliz em saber que os textos aqui estão sendo úteis não só para o seu desenvolvimento profissional, mas também para ajudar os seus alunos a repensarem o modo como aprendem e como podem aprender inglês: naturalmente.

    🙂

  5. Hello! How’s it going?
    For me grammar is important, being in the traditional method or not.

    Because it is there where we learn how to write correctly.
    But thanks for more one tip.

    1. Well said, Fátima!

      The traditional grammar is related to writing and speaking correctly, especially in formal contexts. However, speaking and writing formally are not exactly the same thing as speaking and writing informally. In each case, there’s a different kind of grammar in action. That’s the point that most people don’t seem to get it. The day people realize that, learning English will be much more fun and interesting to lots of learners.

      😉

  6. Wow! Thanks, Ellen! Fico feliz por esse seu feedback. Estou aqui me achando! Qualquer coisa, estou na área! 🙂

  7. Olá, Taina! Bom saber que o site é fonte de estudos para você. Obrigado pela confiança. 🙂

    Vou preparar aqui uma lista de adjetivos e publicar. Se bem que há vários textos sobre vários adjetivos aqui no site. 🙂

    1. Thanks for the comment, Luiz 7abiano! 🙂

      Learning grammar naturally is really way better than just memorizing rules and terminology.

  8. Olá Denilson, em primeiro lugar meus parabéns pelo seu trabalho, tenho visto que é de muita valia pela quantidade de pessoas que o acompanham…
    Bom, eu sou um dos estudantes de Inglês do Curso de Idiomas Globo, aquele dos livros e fitas K7, aprendi muitas coisas com ele foi de grande valia..
    Sempre estudei só, pois meu trabalho em fazendas não me deixa ter uma sequência normal de aulas, e vendo este seu trabalho resolvi te perguntar se você disponibiliza de algum material para estudantes com eu ???
    Sempre tiro minha dúvidas no : Inglês na Ponta da Língua, meu dicionário nas noites de fazenda..
    Lhe agradeço muito a atenção, e mais uma vês parabéns pelo seu belo trabalho !!!!

    Helder Corrêa da Silva …

    1. Olá, Helder! Obrigado por sua mensagem! bom saber que meu trabalho o ajuda!

      O material que tenho, voltado para estudantes, são os que falo a respeito aqui no site: ebooks, livros e as dicas do site. Nada mais que isso!

      🙂

  9. Temos que aprender um idioma como uma criança. Ouvindo e falando. Ouvindo e falando e errando e acertando. Ninguém aprende uma língua indo direto na gramática!

  10. Também concordo que a gramática de um idioma deve ser assimilada de forma natural, e não como requisito básico para se falar uma língua.

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