Novas tecnologias para aprender inglês!? Precisamos mesmo de algo novo?
Novas tecnologias para aprender inglês? Será que estamos mesmo precisando de algo novo?
Eu me fiz essa pergunta após receber uma pergunta via Clubhouse.
A autora da pergunta dizia ter o objetivo de trazer novos recursos e formatos de aprendizado usando a tecnologia e pessoas para assim elevar o número de fluentes no Brasil de 5% a 10%. Logo, ela gostaria de saber o que eu penso sobre como a tecnologia/pessoas pode acrescentar algo de essencial ao que os cursos online já oferecerem. Assim, criaria-se um diferencial do que já há no mercado.
Confesso que se trata de uma pergunta interessante e relevante para os momentos atuais.
Afinal, são muitos os cursos online existentes. O marketing digital – principalmente aquele da promessa do 6 em 7 – fez com que o número de “professores” oferecendo seus cursos com métodos milagrosos – fluente em 30 dias e maluquices do tipo – proliferasse numa velocidade assustadora.
Hoje qualquer pessoa que saiba um pouco de inglês e tenha muito conhecimento em marketing digital consegue se vender como o grande especialista de ensino de inglês do Brasil (se duvidar do mundo). O que tem de melhores “professores” de inglês no Instagram não é brincadeira. A grande maioria com certificados de passaporte (só viajaram por alguns países e se dizem professores), com certidão de nascimento (como se nascer no país onde a língua é falada o autentica como professor) e com cara de pau mesmo (a pessoa mal terminou um curso e já se acha capaz de dar aula).
Enfim, segue abaixo a resposta que dei à pergunta no início deste artigo.
O mito dos 5% fluente em inglês no Brasil
A pesquisa que todos usam para falar isso foi realizada em 2013. Na época, ela foi conduzida pelo British Council Brasil em parceria com o Instituto de Pesquisa Data Popular.
O que a pesquisa feita não revelou que 5% da população brasileira é fluente em inglês. Na verdade, o número é pior do que se imagina.
O que a pesquisa revelou foi que 5% da população brasileira sabe inglês, mas desses 5% apenas 1% é fluente em inglês. Ou seja, o certo é afirmar que lá em 2013 apenas 0,05% da população brasileira era fluente em inglês. Traduzindo para os números daquela época, podemos dizer que cerca de 100.500 pessoas em um universo de 201 milhões de pessoas eram fluentes.
De lá para cá, não foi feita nenhuma outra pesquisa. Então, nós assumimos que muita coisa não mudou. Continuamos no mesmo patamar.
Vale ainda dizer que lá em 2013, a pesquisa foi feita com 1300 profissionais que ensinavam inglês em escolas públicas. Note bem isso: a pesquisa foi feita com professores de inglês de escola pública.
Logo, isso nos faz pensar na qualidade da formação dos professores de inglês no Brasil. Além disso, somos também levados a questionar os métodos e os materiais utilizados para se ensinar inglês por aqui.
Enfim, o abismo é bem maior do que a gente imagina e ele só aumenta. A formação do professor de inglês do Brasil é fraquíssima e precisa ser melhorada urgentemente. Não temos uma política pública para ensino de língua inglesa que reflita os conceitos (métodos e abordagens) mais atuais do ensino de inglês.
A discussão é longa!
O mito da tecnologia usada para fins educativos
A tecnologia (internet) surgiu com a a promessa de revolucionar a educação. O ensino seria muito mais rápido, dinâmico, pontual, eficiente. O futuro do aprendizado e ensino seria muito melhor para professores e alunos.
Nós acreditávamos nisso. Nós repetíamos isso cerca de 10 anos atrás. Se duvidar ainda acreditamos nisso.
O problema é que esqueceram de avisar os estudantes.
De acordo com pesquisa da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), os nativos digitais não sabem buscar conhecimento na internet.
“A familiaridade dos adolescentes atuais com a tecnologia, que faz deles nativos digitais, não os torna automaticamente habilitados para compreender, distinguir e usar de modo eficiente o conhecimento disponível na internet.“
Se os nativos digitais não sabem usar a internet em prol do seu aprendizado, o que podemos dizer dos não-nativos digitais?
De modo geral, as pessoas não sabem usar (ou simplesmente não usam) a internet (os recursos tecnológico) para aprender novas habilidades, buscar conhecimento.
Portanto, o surgimento de uma nova tecnologia não resolverá o problema do baixo nível de fluência em inglês dos brasileiros.
Se não sabem usar as tecnologias (os recursos) já existentes, uma nova não fará diferença alguma. Será apenas mais uma no meio de tantas.
Portanto, temos aqui algumas perguntas:
- Precisamos mesmo de uma nova tecnologia para aprender inglês?
- É mesmo necessário criar um novo app, site/blog, fórum, perfil no Instagram ou canal no Youtube para ensinar inglês?
- Será mesmo preciso um novo dispositivo que ajude os brasileiros a aprender inglês?
Interpretando melhor as pesquisas
Pelo exposto acima, nós temos de observar a situação atual e procurar mudá-la. No entanto, como fazer isso? Será que temos condições de fazer algo novo? O que seria esse algo novo e como fazer isso de modo eficiente?
Em 2003, quando escrevi o livro Inglês na Ponta da Língua, eu tinha por objetivo ajudar as pessoas aprenderem a aprender inglês.
Naquele ano, a preocupação com o aprender a aprender já era algo que me incomodava. Mesmo com a internet ainda engatinhando no país, já era perceptível que em se tratando de aprender, o público estava perdido.
A internet então cresceu e todo correram para ela. Tinham-na como a grande resposta para aprender inglês rápido, aprender como um nativo, falar com pessoas do mundo todo, assistir aos programas de TV em inglês, ler textos autênticos direto da fonte, etc.
O acesso ao conteúdo foi realmente facilitado pela internet. No entanto, o aprender ficou extremamente prejudicado.
Os estudantes na esperança do “aprender rápido” focaram apenas no “rápido” e esqueceram do aprender.
Essa é a razão pela qual a pesquisa da OCDE mencionada acima conclui que os nativos digitais não sabem aprender.
Não são capazes de desenvolver estratégias de aprendizado. Também são incapazes de manter o foco, a organização, a administração do tempo e outros pontos cruciais quando o assunto é aprender.
Como resolver essa situação e se destacar no mercado?
Em meus cursos e palestras, eu tenho dito enfaticamente o seguinte:
O maior desafio dos professores na atualidade não é mais apresentar/ensinar o conteúdo aos seus alunos. O imenso desafio hoje em dia é ensinar os alunos a arte do aprender a aprender.
O conteúdo que antes era algo que o professor controlava está hoje disponível aos montes na internet. Uma rápida busca no Google ou Youtube traz inúmeros sites, canais, perfis, etc., com o conteúdo de qualquer disciplina.
Na ansiedade de aprender rápido, os alunos se atropelam, se perdem, se frustram, se enchem de material… Acabam se tornando péssimos aprendizes e acumuladores de conteúdo.
Assim, para que um profissional de ensino de língua inglesa (ou qualquer outra disciplina) se destaque no mercado hoje tem de focar no ensino da meta-aprendizagem (o aprender a aprender).
Desenvolver a autonomia dos aprendizes é o grande desafio e deve ser o foco principal no ensino. Apresentar o conteúdo e dar mais tarefas/exercícios não fará muita diferença; pois, isso eles já têm aos montes.
Desenvolver a autonomia dos estudantes os ajudará a assumir o controle do aprendizado de forma clara, organizada, focada em resultado.
Sem contar que ao trabalharmos essa autonomia, estarem formando aprendizes para a vida toda e não apenas para uma prova (um exame), uma entrevista, uma viagem, um filme ou série.
Conclusão
Como podemos iniciar o processo de desenvolvimento da autonomia de nossos learners?
Seguem abaixo pontos a serem considerados.
- Conscientizar os aprendizes sobre como o aprender a aprender é fundamental no desenvolvimento deles. Para isso, a professora apresentará novas ideias e experiências que encorajem os seus alunos a perceber o processo de aprendizagem. Pode-se apresentar estratégia e ideias que os levem a pensar “Isso é legal!“, “Quero fazer isso para aprender!“, “Ah, então este é o caminho!“.
- Após a conscientização, entra em cena a mudança de atitude. Os aprendizes precisam adquirir os novos hábitos que os conduzirão pela jornada do aprendizado. Eles também estarão preparados para mudar o que for preciso para que percebam seu progresso. Saber como adaptar as estratégias de aprendizado a cada momento. É aqui que eles realmente percebem que são responsáveis por seu próprio aprendizado.
- Nos dois pontos anteriores, o professor tem o papel de orientador (facilitador). Neste terceiro, ocorrerá a transferência de papéis. Ou seja, o professor passa a agir como um observador. Ele sugere atividades, projetos, conteúdos, etc., e deixa os aprendizes responsáveis pela conclusão do trabalho. Os alunos decidem o que fazer e como fazer. Eles têm a liberdade para tomar as decisões. Eles também sabem que o professor continua presente como um consultor que os ajudará se assim precisarem.
Com o passar do tempo, os alunos se sentirão mais confiantes, capazes, determinados a continuar aprendendo. Mantendo o foco em suas necessidades. Buscando materiais coerentes que os ajudem a atingir seus objetivos.
O profissional de ensino que desenvolver algo nesse sentido será sem dúvida um profissional de sucesso e bem destacado no mercado.
O que precisamos hoje em dia não é de novas tecnologias para aprender inglês. A grande verdade é que o que realmente precisamos é mostrarmos aos alunos como usar o bom é velho cérebro e assim tirar proveito das tecnologias já existentes.
Quem sabe assim, nós conseguiremos mudar o quadro e aumentar o número de falantes fluentes de inglês em nosso país.
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Obrigada, conto com dia ajuda
Regina Fernandes
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Já o acompanho a alguns anos, confesso que não sou um exemplo de disciplina e o meu conhecimento sobre inglês tem aumentado de forma menos expressiva do que gostaria. Isso é resultado da minha falta de organização, do não conhecimento ou busca de técnicas coerentes para gradativamente ir incrementando vocabulário, gramática, etc. e por final a falta de disciplina que citei no inicio do comentário. Ler essa postagem hoje, me fez enxergar com mais clareza a mim mesmo. Vi o meu perfil de aluno ser descrito por você, sou mais um que precisa “aprender a aprender”.
O objetivo de vir aqui deixar esse comentário é reafirmar o quanto o seu trabalho é importante. Parabéns pelo conteúdo do blog, continue em frente!
Forte abraço
Thank you very much, Paulo! Keep learning!