Aprender a Falar Inglês Naturalmente: é possível?
Falar inglês naturalmente! Esse certamente é o sonho de muita gente. Você mesmo deve estar lendo este texto pois quer saber o que significa fala inglês naturalmente. O que está envolvido nesse processo? O que deve ser feito? O que aprender? Por onde começar?
Minha intenção neste textão é apresentar a você algumas ideias que os pesquisadores na área falam sobre isso tudo. Falo de coisas que foram essenciais para mim como aprendiza de inglês. Então, para ficar mais interessante, vou te contar antes uma pequena história sobre mim e assim a gente vai se entendendo. Se achar que minha história não tem nada a ver com você, pode parar de ler o texto a hora que quiser. Vamos lá!
MINHA PEQUENA HISTÓRIA
Eu comecei a estudar inglês (sozinho, sem curso, sem viajar para o exterior, só eu e os livros) no começo de 1991. Até o final de 1997, eu tinha aprendido muita coisa.
Minha gramática era excelente. Ao fazer testes e atividades gramaticais, eu conseguia acertar 95% das questões. Eu até discutia com propriedade e desenvoltura tópicos gramaticais com falantes nativos. Gramática para mim não era problema. Eu era também muito bom com as palavras. Meu vocabulário era extremamente rico. Eu sabia palavras que muita gente – inclusive nativos – não sabiam. Quando alguém perguntava como se dizia algo em inglês, eu tinha a resposta na ponta da língua. Modéstia à parte, eu era extremamente bom nesses dois pontos.
O curioso é que mesmo sendo extremamente bom, eu não conseguia falar inglês naturalmente. Minha fala era arrastada. As palavras saíam de modo desengonçado. Eu sabia inglês; mas, mas era incapaz de falar inglês com desenvoltura. Entender um filme, seriado ou música era algo sofrível. Quando conversava com um nativo, eu engasgava e mal entendia a pessoa. Mas, ao falar inglês com brasileiros, achava muito fácil. Teve uma época que eu preferia falar com brasileiros a ter de falar com um nativo. Confesso que até pensei em deixar esse tal inglês de lado.
Lá por volta do começo de 1998 – por meio da leitura e do aperfeiçoamento profissional –, percebi o que eu tinha feito de errado até aquele momento.
Eu havia passado 7 anos da minha vida decorando palavras soltas (e também algumas expressões, frases, phrasal verbs, gírias e essas coisinhas), memorizando regras gramaticais (quando for um verbo consoante + vogal + consoante dobre a última consoante antes de acrescentar o –ing: getting, running etc.) e os termos técnicos dos livros de gramática (Present Perfect, Passive Voice, Past Participle, Prepositions, Past Simple…).
Como eu lia muitos livros de metodologia, aquisição de uma língua adicional, neurociência, psicolinguística e afins, percebi que precisava ter incluído, desde o início do meu aprendizado, tópicos que iam muito além da simples gramática com suas regras e termos técnicos e da decoreba mecânica de palavras em inglês.
Esses pontos extras que eu estava descobrindo teriam me ajudado a falar inglês naturalmente muito mais cedo do que eu imaginava. Se quiser saber quais são, continue lendo. Mas, antes vou falar sobre dois pontos que são sempre lembrados quando alguém decide aprender inglês.
GRAMÁTICA e VOCABULÁRIO
Gramática e vocabulário são as duas primeiras coisas que vêm à cabeça quando alguém diz que vai aprender inglês. Mas, o que exatamente é gramática e vocabulário?
Para a grande maioria das pessoas, gramática é o conjunto de regras que determina o uso da correto da língua. É o famoso falar certo. Já vocabulário são as palavras que precisamos aprender para usar do jeito certo com a gramática.
Assim, a gramática (com suas regras e termos técnicos) é uma espécie de esqueleto sobre o qual acrescentamos a carne e a pele (as palavras soltas que decoramos).
Não tenho nada contra essa visão! No entanto, se você quer mesmo falar inglês naturalmente precisará ir muito além desses dois pontos. Para usar um jargão do momento: você precisa pensar fora da caixinha.
E assim, chegamos aos outros pontos que são extremamente importantes pra quem quer aprender a falar inglês naturalmente. Estes novos itens não são difíceis de serem compreendidos ou aprendidos. O problema é que geralmente os estudantes de inglês (e muitas escolas também) os deixam para os níveis mais avançados. Na verdade, há estudantes que nunca ouviram falar sobre isso e escolas de inglês que não fazem a menor ideia desses pontos.
Essa é a razão pela qual muitos têm a impressão de que estudam inglês há anos e ainda assim não conseguem falar ou entender algo que é dito. Podem ler e escrever bem, mas falar e ouvir é complicado. Sabem muitas palavras e muita gramática, mas na hora de bater um papo naturalmente, engasgam.
Que pontos adicionais são esses? Vamos a eles!
FORMULAIC LANGUAGE
Atualmente, este é o nome que damos para algo também conhecido como chunks of language, lexical items, lexical phrases, multi-word items e outros tantos.
O conceito de vocabulário como palavras soltas foi ampliado para o tal do formulaic language. Hoje, não devemos focar demasiadamente no ensino/aprendizado de palavras soltas.
Aprender que “go” significa “ir”, não é nada. Pois, ao ler algo como “he’s going grey”, é preciso entender que “go grey” significa “ficar grisalho”. Ao ouvir “I’m going for a walk in the park”, tem de saber que “go for a walk” significa “dar uma caminhada” ou “caminhar”.
A ideia de formulaic language não se limita apenas às palavras isoladas e seus diferentes usos e significados. Quando falamos de formulaic language, estamos incluindo aí coisas como collocations, phrasal verbs, idioms, slang words, phrases, fixed sentences, semi-fixed sentences e tudo mais relacionado ao universo lexical da língua inglesa.
Além disso, formulaic language está também relacionada à gramática da língua. No entanto, não se trata da gramática de regras e termos técnicos. Formulaic language ajuda você a aprender a gramática natural da língua inglesa (mesmo sem decorar regras e termos técnicos). Para entender melhor, leia o texto Aprender Inglês Sem Gramática.
Se eu soubesse disso no começo dos meus estudos de inglês, teria aprendido logo cedo a me expressar de modo muito mais natural. Ao invés de ficar montando as frases palavra por palavra e pensando nas regras gramaticais, eu teria sido capaz de dizer exatamente o que queria do modo certo, no momento certo com a maior clareza do mundo.
Só depois que passei a aprender formulaic language, percebi o quanto meu inglês melhorou. Com isso, tomei coragem para fazer os exames de Cambridge e passei em todos (FCE, CAE e CPE). Além disso, percebi também que meu listening melhorava cada vez mais e eu era capaz de compreender as filmes, músicas, seriados, conversas etc., com muito mais naturalidade.
GAP FILLERS
Os gap fillers poderiam ter sido incluídos na categoria de formulaic language. No entanto, resolvi escrever sobre eles à parte.
De modo bem simples, gap fillers são pequenas palavras ou expressões que usamos naturalmente ao conversarmos e muitas vezes nem percebemos. Em português, palavras como “bem…”, “bom…”, “tipo…”, “tipo assim…”, “olha só…”, “veja bem…”, “então…” e outros mais são exemplos de gap fillers.
Em inglês, alguns gap fillers geralmente usados ao falar inglês naturalmente são: “well…”, “hmmm”, “er…”, “you know…”, “I mean…”, “it’s kind of…”, “it’s sort of…”, “you see” e outros tantos.
O uso de gap filler em inglês é tão comum e frequente que quando passei a percebê-los eu perdi o medo de falar inglês com as pessoas. Eu também consegui fazer e perceber as pausas ao falar ou ouvir inglês.
De acordo com vários, pesquisadores os gap fillers são uma das melhores maneiras para identificar o nível de proficiência de um falante de inglês como língua adicional.
Se eu tivesse aprendido isso no começo dos meus estudos de inglês, não teria passado boa parte do tempo achando que as frases em inglês deveriam ser ditas do começo ao fim sem pausa. Nem teria penado para entender o que as pessoas me falavam.
Eu ia escrever um texto falando só sobre gap fillers, mas o Daniel Silva, do site Inglês no Teclado, já fez isso. Então, leia o texto dele: GAP FILLERS – por que você deve usá-los para falar Inglês (áudio).
PRONÚNCIA
Não quero aqui falar sobre aspectos básicos da pronúncia da língua inglesa. Ou seja, não vou falar nada sobre diferenciar o som de “shit” e “sheet”, “man” e “men” ou fazer os sons do “th” com perfeição. A ideia é falar sobre o que chamamos tecnicamente de características suprassegmentais da língua.
Calma! Esse nome horroroso refere-se a um nível mais profundo da pronúncia: stress, intonation, connected speech, rythm, pitch. Enfim, tópicos relacionados à pronúncia que geralmente são tratados quando chegamos aos níveis avançados.
Se desde o começo eu tivesse dado atenção à entonação (intonation), eu não teria tido tantos problemas ao falar inglês naturalmente com alguém. Se eu tivesse aprendido sobre connected speech, não teria ficado boa parte da minha vida achando que os falantes nativos falavam rápido demais. Se eu não tivesse passado boa parte do tempo focado em aprender coisas simples como “os sons do th”, “a diferença entre beach e bitch”, “a diferença entre man e men”, eu certamente teria desenvolvido meu inglês de modo mais natural muito antes de 1998.
Felizmente, aprendi a tempo de me corrigir e ir melhorando. Confesso que ainda hoje não sou perfeito nesses pontos. Mas, nem por isso sou incapaz de falar inglês naturalmente com quem quer que seja. Não sou 100% perfeito (se é que alguém é!), mas causo uma boa impressão.
CONCLUSÃO: falar inglês naturalmente
Se eu soubesse dessas coisinhas simples quando comecei a aprender inglês lá em 1991, eu certamente não teria demorado tanto para começar a falar inglês naturalmente. Esse itens certamente teriam me ajudado muito no começo.
No entanto, não vejo isso como um erro. Valeu a pena! Aprendi muita coisa e esse conhecimento serviu para hoje eu fazer o que faço: dar palestras, escrever livros, pesquisar o processo de aprendizado, manter este site, dar dicas de aprendizado, orientar professores e estudantes de inglês, dar cursos, workshops e muito mais.
Foi interessante passar por tudo isso e hoje – 26 anos depois – ter adquirido essa experiência como estudantes de inglês e como profissional de ensino da língua inglesa.
Claro que isso tudo não servirá para absolutamente nada se você não se dedicar, se envolver com a língua inglesa, estudar com afinco e manter a motivação para aprender inglês. Se tiver tempo, leia Como eu Me tornei Fluente em Inglês.
Fiz inúmeras maluquices para poder aprender e desenvolver a minha fluência em inglês. Já escrevi muito sobre isso aqui no Inglês na Ponta da Língua. Agora, vou começar a falar ainda mais – e de modo mais prático – por meio do Inglês na Ponta da Língua Premium, uma área exclusiva para assinantes que terá dicas e informações sobre tudo o que escrevi acima e muito mais. Portanto, inscreva-se no Premium e mude o modo como você aprende inglês. Não ofereço fluência de modo milagroso (em 18 horas, 4 semanas, 3 meses – isso é papo de quem quer só ganhar dinheiro!). O que ofereço é um conteúdo diferenciado para você também ficar com o Inglês na Ponta da Língua assim como eu e muitos outros também ficamos.
Fala inglês naturalmente não é impossível. Mas, é preciso pensar fora da caixinha para perceber como o processo se dá. Espero que tenha gostado do texto. Até a próxima! 😉
Que relato! Que história! Obrigado pelos ensinamentos, pela dedicação e parabéns pela humanidade!
Thanks, André! Na verdade, não posso dizer que inventei a roda e descobri o método milagroso que deverá à fluência em um tempo recorde. Mas, posso compartilhar com as pessoas meus insights como aprendiz de inglês e como profissional na área . Acho que é aí que posso fazer a diferença! ?
Bom dia Denilson!
Que história!!! Parabéns pelo trabalho e por compartilhar. Tive uma experiência não muito boa ontem com a língua inglesa. Poderia por favor passar seu contato whatsapp ou me chamar no email por favor? tiagobalves@gmail.com
Texto excelente me sinto assim, parece que nunca aprendo nada. Como sempre Denilso sendo um mestre e incentivador para o povo brasileiro aprender inglês. Obrigado por todo seu trabalho e espero poder dizer: eu tenho o inglês na ponta da língua.
É só não desistir, Natália! Acredito que as dicas dadas no texto aliadas a outras que encontram-se espalhadas por aqui ajudarão você nessa caminhada. Eu espero poder ler sua história de sucesso em breve. Vamos continuar firmes! ?
Vamos sim… ?
Valeu o esforço, né?
Sua história é um grande exemplo de dedicação. Não passei por tudo isso, mas quando eu coloquei na cabeça que queria aprender inglês eu aprendi. Não foi fácil também.
Muita gente pensa que só morar fora irá aprender a falar um idioma… Mas não é bem assim. Conheço muita gente que mora nos EUA há 3, 5, 7 … 15 anos e não sabe formular uma frase interrogativa no passado. Sério!
Sou seu fã. Sempre carrego seus livros comigo. Sempre estou usando para ensinar.
Muito obrigado pela dedicação que tens em nos passar seu grande conhecimento.
Grande abraço.
E como valeu, Pablo!
Também conheço pessoas que moram nos EUA há muitos anos e que ainda têm um inglês sofrível. Certa vez, dei aula para um homem de 35 anos que tinha morado no EUA por exato 15 anos. Embora ele tivesse morado desde os seus 20 anos de idade, o inglês dele não era nada satisfatório. Ele tinha uma dificuldade enorme para se expressar naturalmente, o vocabulário não era dos melhores e a gramática de uso… Melhor nem comentar!
Os demais alunos da sala de aula se perguntavam como era possível uma pessoa morar tanto tempo nos States e ainda assim não falar inglês. Ele mesmo dizia que morar lá não significa nada quando você não se dedica, se esforça, estuda, se envolve com a língua e coisas do tipo. De acordo com ele, o mais importante é o mindset correto e ajustado para aprender.
Isso foi lá no ano 2000 e até hoje me lembro dele falando isso para os adolescentes e jovens da sala de aula. Ele e eu éramos o contraste de tudo aquilo que a turma esperava. O professor um sujeito que havia aprendido inglês sozinho, nunca havia saído do Brasil, nunca teve aulas formais de inglês, mas ainda assim era professor de uma turma de nível avançado. Ele um sujeito que havia morado fora por tanto tempo, mas que sentia a necessidade de aprender mais (melhorar) e reconhecia que não aproveitou o momento que morou fora.
Tenho muitas histórias assim!
Todas servem para mostrar a essa gurizada que para aprender inglês é preciso mais o que realmente queremos e como nos dedicamos do que onde estamos. ?
Vi que você se inscreveu no curso de teachers! Até agora só tem você! Se continuar assim o curso será exclusivo. rsrsrsrs
Abraços!
Entendi muito bem pois eu vivo nos EUA 3 anos tenho conhecimento razoavel em gramatica leio bem mais quando o assunto e falar estou no nivel basico, no telefone e mais dificil e depende da boa vontade das pessoas para manter uma conversacao.
Tenho interesse de me inscrever na area premium e quero fazer uma pergunta , pois a diferencas culturas e diferentes pronuncias aqui EUA e na Inglaterra. Qual voce dara mais atencao?
Grato ,Tomas.
Hello, Tomas! Obrigado por seu comentário! Se você acompanha meu trabalho – aqui no site e no Youtube – já deve ter notado que minha pronúncia, meu foco, meus contatos, meus parceiros etc., estão muito mais voltados para a variante americana da língua inglesa. Em todo caso, no Premium, é mais do que natural que eu também mencione outras variantes, afinal a língua inglesa não é homogênea e cada participante pode ter uma preferência. Contudo, sendo a variante americana a mais exigida é claro que boa parte do material será baseada nela. ☺️
Denilson, adoro todos os seus posts, o que você disse nesta matéria é a realidade de muitos estudantes de inglês que terminam o curso e ainda sim ficam inseguros na hora de falar, como no meu caso, escrevo bem, porém travo ao falar. As suas publicações e vídeos no youtube tem me ajudado muito!!!
Que legal, Aline! Fico super feliz em saber que estou colaborando com seu aprendizado de inglês por meio de minhas dicas aqui e no Youtube. Aliás, confesso que tenho de voltar a produzir vídeos para o Youtube. Está na hora! O Inglês na Ponta da Língua Premium está me tomando muito tempo, mas o Youtube não pode ficar largado! ???
Gosto sempre de ler os teus artigos em que explicas como vieste a aprender inglês com tanto sucesso. Isso serve como um motivação para todos de nós, mostrando o que pode ser atingido com esforço e persistência. Para mim, os ingredientes mais importantes são esforçar-se e dedicar-se à causa. Faz-me rir que mesmo há cursos que reclamam que vão ensinar alguém para falar inglês “fluentemente” numa certa quantidade de tempo. Tendo feito a minha aprendizagem de português até este ponto e sabendo o que sei agora, acho que esse tipo de afirmação tem de ser tomado com muita suspeição. Não há nenhum substituto por trabalho duro.