Solte Seu Inglês
A revista Veja desta semana traz uma reportagem “especial” com o título “Solte Seu Inglês”. Com uma capa que chama a atenção lemos ainda “Dá para aprender depois de adulto, melhorar no trabalho e passar menos aperto”. Com o título da capa e uma chamada assim, as pessoas certamente comprarão a revista sem pensar duas vezes. Mas, será que vale a pena?
No primeiro parágrafo a repórter faz a introdução falando sobre alguns apertos que as pessoas passam ao fazer confusão com os tais falsos cognatos. Já o segundo começa com a seguinte sentença: “O ensino do inglês é notoriamente deficiente no Brasil”. Você então pensa que o tom ficará mais ríspido; mas, na verdade, isso não acontece.
A matéria no geral procurar apresentar números para mostrar a deficiência do Brasil em relação à quantidade de pessoas fluentes em inglês (leia em Sobre o Ensino de Inglês no Brasil). Além disso, traz a história de algumas pessoas que pagaram micos por não saber inglês direito. E ainda, a importância de se saber inglês hoje: melhora no salário, por exemplo. Ao terminar de ler a matéria, você deverá se perguntar, “Cadê as dicas para eu soltar o meu inglês? Onde estão as dicas para que eu, adulto, possa me sentir mais confortável com o aprendizado da língua?”.
Infelizmente, não há nada disso na matéria. A reportagem é um tanto quando vaga e não traz nenhuma novidade para quem já sabe da importância de se aprender inglês. Nada de extraordinário para quem já sabe sobre falsos cognatos. Simplesmente nada de fantástico para quem já lê dicas de blogs e sites como o Inglês na Ponta da Língua e outros.
A repórter, em minha humilde opinião, poderia ter falado com especialistas que dizem que todo adulto é capaz de aprender inglês. O problema no Brasil é que as escolas continuam utilizando métodos e abordagens que focam o ensino para o cérebro de crianças. Afinal, após a puberdade a região do cérebro que ajuda adolescentes, jovens e adultos a aprender um segundo idioma é outro. Logo, uma abordagem diferente deve ser usada com esse público.
Além disso, as técnicas de ensino/aprendizado voltadas para um adulto não têm de ser as mesmas usadas por uma criança. Fato que parece ser desconhecido até mesmo para profissionais de escolas mais tradicionais. O adulto não precisa fazer setinhas, usar canetinhas coloridas, etc. É possível atingir objetivos satisfatórios sem que o estudante mais velho seja tratado como uma criança. Isso evita que os adultos fiquem numa posição defensiva. Enfim, há muita coisa diferente a ser feita.
Também faltou dar algumas dicas para que os leitores possam começar a criar um roteiro de estudos e tirar mais proveito dos recursos disponíveis gratuitamente na internet. Faltou falar sobre a importância com o envolvimento da língua para desenvolver as fluências. Deixou também de falar sobre o estabelecimento de objetivos, avaliações periódicas e coisas assim para que o estudante adulto saiba como ele está se saindo ao longo do processo. Nada foi mencionado sobre as certificações internacionais exigidas por muitas empresas.Poderia ainda ter falado um pouco sobre as definições de níveis conforme o Common European Framework. Caso a repórter mencionasse isso, o leitor saberia o que se espera de cada nível e assim poderia criar um roteiro, estabelecer os objetivos e saber como ele/ela está se saindo para atingir o conhecimento necessário em cada nível. Essas informações ajudariam os leitores a tomar alguns passos necessários para que possam realmente soltar o inglês deles.
O final da reportagem, no entanto, traz uma informação interessantíssima: “o aprendizado de uma língua é uma jornada para a vida toda, cheia de desafios e recompensas”. Essa informação deveria estar em destaque na matéria. Afinal, como todos bem sabem aprender inglês é mesmo para a vida a toda. Assim, a cada dia o estudante aprenderá algo novo e encontrará novos desafios, mas com a atitude correta, o interesse contínuo e os recursos disponíveis, esse estudante poderá ficar com seu inglês na ponta da língua e, assim, ser capaz de soltar o seu inglês de modo mais confiante.
No geral, a reportagem é razoável. A minha opinião e a de outros colegas é a de que a matéria deixou muito a desejar, mas ainda assim é positiva. Afinal, mostra que o ensino/aprendizado de inglês está começando, embora timidamente, a chamar a atenção da mídia. Isso por si só já é uma vitória para quem é da área. Portanto, vamos torcer para que as coisas comecem a ficar mais sérias e os especialistas comecem a falar com mais frequência para mostrar os caminhos do aprendizado mesmo para quem já é adulto.
E você!? Já leu a matéria? O que achou? Deixe seu comentário clicando aqui ou mesmo em nossa página no Facebook.
Por ser tratar da revista Veja já fico com o pé atrás com qualquer matéria publicada!
Achei a matéria o maior fiasco. Estava lendo quando de repente me perguntei: ué, acabou??? Eu esperava muito mais dessa reportagem, ainda mais por ser a capa da revista. Parece que o texto foi escrito por um amador.
Ótimo comentário amigo.
Ainda que a Veja não tenha ido tão a fundo no assunto, só de ter tratado essa reportagem como a reportagem da capa já está valendo. Para mim, a repórter quis mostrar, ainda que de forma abrangente, o porquê de ser tão necessário aprender inglês. Eles quiseram apontar dois motivos principais: carreira profissional e viagens. Talvez seja porque o público leitor da revista tem um certo perfil, e assim, essas duas razões para aprender inglês sejam as que mais atraiam esse público. Acho que muita gente ao ler essa reportagem vai, no mínimo, se questionar sobre algumas questões ("O ensino de inglês é notoriamente deficiente no Brasil") e também (espero eu) começar a estudar inglês ou pelo menos repensar em como anda o estudo.Mesmo que seja meio superficial, tá valendo! Fico muito feliz em ver um veículo de comunicação tão conhecido como essa revista tratar de um assunto tão sério mas tão negligenciado por nossas autoridades: o ensino/aprendizado de inglês.Abraços!
Provavelmente o texto é superficial, porque a jornalista não entende muito do assunto para ir a fundo, ou a matéria foi paga. Para mim, que sou professora de idiomas, está mais para propaganda enganosa. Lógico que a necessidade de aprender idiomas, no caso o inglês, para a carreira de uma pessoa ou outros propósitos, como viajar, é importante. Mas, fico preocupada com a ilusão que isto pode criar para quem desejar aprender um idioma. Já me irrita quando vejo aqueles banners anunciando cursos de inglês em que a pessoa sairá falando fluentemente o inglês em 3 meses …. Gostei e achei apropriadas as suas observação quanto à matéria.
A reportagem foi tão superficial quanto o Inglês da vasta maioria de falantes no Brasil.
Como disse o João Roberto, não espero muita coisa da Veja também. Mas eu li a matéria ontem, fiz o teste e gostei do resultado que tive. Muito pertinentes os comentários!Suzana de Alencar Gonçalves
A revista colocou um teste que apenas aborda algum conhecimento estrutural/vocabular; ou seja, não avalia fluência. Qualquer teste de nivelamento, para ser no mínimo coerente, deve avaliar tanto o aspecto escrito da língua (estrutura, vocabulário, leitura e produção escrita), quanto o aspecto oral (compreensão, produção e fluência oral). Deveria haver ao menos uma note de rodapé explicando isso aos desavisados.